terça-feira, 9 de agosto de 2011

Matuto nas Oropa
Amazan*

Seu moço preste atenção
Queu vô conta sem frescura
Algumas das aventura
Dessa vida que labuto
Derna de pequeno eu luto
Pra anda sempre na linha
Só faço má a farinha
Qui é comida de matuto.

Com cinco ano de idade
Já apanhava agudão,
Já usava cinturão
Pras calça não dispencá,
Já comia manguzá
Cum rapadura boro,
Já andava nos forró,
Só falava em me casa.

Assim seu moço eu vivia
Sem luxo sem vaidade,
Ia poço na cidade,
Num via coisa granfina,
Porém mudei de rotina
Daquele dia pra cá
Que aprendi a toca
O diabo da concertina.

Pois derna daquele dia
Fui miorando de cina,
Pegava na concertina,
Incaicava, ela gemia,
Os amigos me dizia:
Tu cum essa bicha na cocha
Sei qui ela é meã frôcha,
Mas tu tem capacidade
Se tu fô para a cidade
Arruma mulé de trôcha.

Num dia de sexta-fêra
Eu tomei a decisão
Arrumei o matulão,
Botei a sanfona im riba,
Peguei a sopa na esquina
E fui bater em Campina,
Cidade da Paraíba.

Chegando im Campina Grande
Eu entrei logo em ação
Tocando xote e baião
Pra mode o povo iscutá
Tocava im quaiqué lugá
Nos forró nas gafiêra
No meio das ruas, nas fera
Inté im mesa de ba.

Fui ficando conhecido
E fui armando o isquema
Inté conhece um dia
TROPEIROS DA BORBOREMA

Tropeiros da Borborema
Grupo de dança afamado,
Pra faze parte do mermo
Eu então fui convidado.

E aceitei o convite
Feito pelo direto,
Passei a sê tocado,
Oficia dos tropêro.
Eita que grupo afamado
Num é que foi convidado
Pra dança no istrangêro!

Pra ir dança na Itália,
França, Ispanha e Portugal
Todos acharo legal,
Eu tombem fui iscalado,
Fiquei feliz e animado,
Mas mudei de opinião
Ao sabe que de avião
Nós ia sê transportado.

Eu digo: - O diabo é quem vai
Num vô nem cá caxa bata
Vuar num passo de lata?
Eu acho munto arriscado,
Se tivé inferrujado
Ou lá im cima cansa,
Cai logo dento do má,
Nós morre tudo afogado.

Mas os colega do grupo
Pegaro e me anima,
Começaro e me ispricá
Qui num ia te perigo.
Depois de muito concêi
Lá num canto me sentei
Pequei a fala comigo:

Eu já montei em cavalo,
Já amancei burro brabo,
Já peguei boi pelo rabo
Nunca mi inganchei cum nada,
Qui dirão meus camarada
Qui no sertão eu dêxei,
Se soube qu’eu afrochei,
Vão mi chama de quaiada.

É! O jeito vai sê eu ir
Eu num tenho otra saída.
Num fiz istória cumprida,
Tomei logo a decisão
E no dia da viagem
Ajuntei minha bagage,
Fui pegá o avião.

Cheguei no aeroporto
Dispachei logo a bagage,
Eu tava inté com corage,
Mas num era munta não,
Mas na hora, meu patrão,
Na hora de imbaicá
Eu mi danei a suá
Chega pingava no chão.

Peguei c’uma tremedêra,
Num sabia o que faze
Mi preparei pra corre
Os colega num dexaro,
Bem uns três me agarraro,
Puxaro de porta adento
Mi prantaro no assento
Do meu lado se sentaro.

Daí a poço o piloto
Pego mostra num cinema
Se tivesse argum probema
Come qui o nego iscapava
Umas mascra dispencava,
Umas porta se abria,
Quanto mais aquilo eu via
Era qui o mêdo omentava,

Depois o ta do piloto
Qui dirige o avião
Mando aperta o cinto
Eu saltei no cinturão,
Dei um arrocho tão grande
Qui quase sai o feijão.

Sei que o bicho começo
Dá uma desimbrestada,
Numa carreira danada
Qui chega açoitava o vento,
Foi levantano do chão
E quando eu dô fé, patrão,
Tava das nuve para dento

Depois lá vem uma moça
Cum mói de toalha quente
Pensei qui era tapioca
Fui logo meteno o dente.

Uma toalhinha branca,
Assim bem inroladinha,
Quando eu vim vê o qui era
Tinha comido todinha.

Deu-me uma dô de ouvido
Dessas de indoidecer
Me levantei da cadêra
Sem sabe o qui faze,
Sem qui ninguém impidisse
Cheguei no piloto e disse:
Pare aí quêu vô descer

O cabra quis acha graça,
Mais viu quêu ia ingroçá
Mando eu tampa a venta
Pela boca respirá,
Ingula o cuspe seguido,
Dessa manêra os uvido
Açoita pra fora o ar.

Sei qui cheguemo im Madrid,
Eu deci do avião
Por dento duma sanfona,
Cumprida qui só o cão
Tomei a benção a Jesus
E fiz o sinal da cruz,
Depois qui pisei no chão.

Dento do aeroporto,
Vi uma porta ingraçada,
Pra mode o nego abri ela
Num precisa fazê nada,
Basta pisa no tapete
Quela fica escancarada.

Porém eu não sabia,
Fui impurrar com a mão
Na mesma hora pisei
No tapete, a porta então
Abriu-se eu passei direto
Prantei a cara no chão.

Pra pedir uma comida
Era a maió inrolada,
Ninguém intendia nada,
Eu mi danava aponta,
Qui povo mais inrolado
Cada cabrão véi barbado
Sem aprende a falá.

Feijão lá, ninguém num vê
Cuscuz, farinha xerém,
Carne de sol lá num tem
Mode servi de mistura,
To dizeno sem frescura
Nunca vô sê convencido
Que lá é disinvolvido,
Pois num tem nem rapadura.

De nove hora da noite
O só inda tava quente,
Nos ba num tinha aguardente,
Nem pitu e nem bregêra,
Ninguém dança gafiêra
E pra falar a verdade
Eu senti munta saudade
Do picado lá da fera.

Num ba pedi um galeto,
Porém o nome era pólo,
Na hora eu quase mi inrolo,
Num sabia o que faze,
Pólo eu num vô cume,
Pruquê pode sê o sú,
Ali eu tomo no pé
Quando o gelo derrete.

Eu tinha munta vontade
De pega um bom feijão,
Arrocha farinha nele
Depois amassa com a mão
Sentado num tamburête,
Faze aqueles bolête
Qui a gente chama canção.

Fui compra uma cuéca,
O cabra num intendeu,
Era eu dizendo CUECA
E ele olhando pra eu.

Depois eu disse: CIROLA,
Também num intendeu não,
Eu disse SAMBA CANÇÃO,
O cabra fico calado
Eu já estava infesado
Decí a calça todinha,
Mostrei a cueca minha:
É isso aqui condenado!

Um dia meus companhêros
Dissero: Vamo açula,
Vamo na danceteria.
Eu digo: Opa, vamo lá,
Hoje esse povo vai vê
O qué um cabra dança.

Mas quando eu entrei na porta
Avistei o destrupisso.
Eu digo: O qui diabo é isso?
Dissero: Um clube moderno.
A luzarada piscano,
Os cabra tudo saltano.
Eu digo: Eu to no inferno.

Me sentei numa cadêra,
Fiquei só observano
Os cabra tudo saltano,
As nega tudo assanhada.
No mêi daquela cambada
Fiquei mêi incabulado,
Passei a noite sentado
E voltei sem dança nada.

Depois nós fumo pra França
E eu fiquei hospedado
Na casa dum pessoa
Munto bom e educado

Porém eu só num gostava
Quando o dia amanhecia,
Dêxá a cama macia
Qui nem carne de caju,
Dize pra eles bom dia.
Sabe o qu’eles respondia?
Tudo duma vez: Bom jú.

Mas eu vô conta também
Algumas das paiaçada
Qui eu pude observa
De alguns dos camarada

Inda no aeroporto
Nós fumo pra uma sala,
Pra numa ta de istêra
Cada quá pega a mala.

E quando as mala apontaro
Eu iscutei uma fala
Dize: pega minha mala,
Senão volta pra Campina.
Era uma das minina
Qui vinha im toda carrêra,
Caiu pru riba da istêra
Perdeu inté as butina.

E o Marco do Rojão
No hotel se inrolô
Foi a maió confusão
Pra pidir um cubertô.


Primeiro pediu lenço,
A mulé disse: Sinhô.
Ele disse: Um cubertô
A mulé fico olhano.
Aí ele disse: Um pano,
Cuberta dona Maria.
Quanto mais ele pidia
É qui ia piorano.

Após gesticula munto
E te cansado a gaiganta
Foi qui a mulé disse: - Ah!
Mi sinhô, uma la mantá.

Inté o veriadô
João Danta, cobra letrado,
Entro nua lanchonete
E foi saindo apressado,
Num viu a porta de vrido,
Pranto nela o pé duvido,
Caiu pra traiz acentado.

Teve munta coisa mais,
Mais eu num vô conta tudo,
Se eu fosse conta miúdo
Passava a noite contano
As paiaçada todinha
Junto as dos outro e as minha
É coisa pra mais de ano.

Mais tem uma nuvidade
Quêu preciso lhe conta
No dia de regressa
Num tive, mais medo não,
Pode acredita, patrão
Quêu fiquei abestaiado
De te me acustumado
Cum o tá do avião.

Sei qui dêxei as OROPA,
Arribei de lá pra cá
Num é falano de lá,
Pruquê lá é bom tamém,
Mais uma coisa convém
Eu dize cum mais de mil,
Eu num troco o meu BRASIL
Pru OROPA de ninguém.

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